Livro exalta carioquices e conta história política, econômica e social do Rio
‘A Cara do Rio’, de Ricardo Amaral e Raquel Oguri, revela curiosidades sobre a cidade e os vários personagens que viveram nela
Rio
- Cariocas são bacanas e sacanas há mais de 450 anos. O que não faltam
são personagens cheios de carioquices para contar a história política,
econômica e social do Rio de Janeiro. Com muito humor e irreverência,
Ricardo Amaral, o paulistano mais carioca do Brasil, e a publicitária
carioca da gema, Raquel Oguri, lançam o livro ‘A Cara do Rio’ (Sextante,
496 páginas, R$ 69,90) contando curiosidades de personalidades tão
distantes como Dom Pedro I, Madame Satã, Tom Jobim e a musa Leila Diniz.
Tudo sem ordem cronológica ou de importância. O
livro é uma grande e divertida colagem aleatória, que ensina longe de
ser didático. “Nosso modelo é livre, bem carioca. Ao terminar,
percebemos quanto é eclética essa nossa seleção de historinhas. Quem
sabe mesmo estapafúrdia”, entende Amaral. Carnaval, jogo do bicho,
musas, personalidades, tem de tudo um pouco.
O autor
conta que se divertiu muito elaborando o livro em cima das pesquisas de
Raquel. E não hesita em escolher sua mais engraçada descoberta. Das
saborosas histórias do pegador Imperador, a melhor, sem dúvida, é o
curioso presente dado à amante Marquesa de Santos. Amaral conta que
Domitila fazia pompoarismo (técnica de contração e relaxamento vaginal,
visando prazer sexual). “D. Pedro I dava seus próprios pelos pubianos
para a amante! Uma história genial”.
E teve mais fofoca na corte:
Dom João VI, que não tomava banho, teria tido um caso com Francisco
Rufino de Souza Lobato, seu camareiro preferido. “Foi muito legal com o
seu, digamos, companheiro de trabalho, a quem concedeu o título de
visconde de Vila Nova da Rainha”. Cai o pano.
A história da noite
carioca está inteiramente ligada à vida profissional e social de Ricardo
Amaral. Ele foi amigo de muitos personagens de seu livro, como Tom
Jobim, Vinicius de Moraes, entre outros, e se apresenta como um contador
de histórias. Enumera rapidamente o que o carioca tem de melhor:
irreverência, simpatia, bom humor. Mas não consegue apontar o seu pior.
No livro, demonstra a malandragem carioca sem julgamentos, mas não sabe
indicar quem é ou foi a cara do Rio. “O carioca tem a cara
multifacetada, não é uma coisa personalizada. Muitos personagens
marcaram a cidade e foram a cara do Rio em algum momento”, acredita o
autor.
PORTUGUÊS NA CAVERNA
O livro conta
curiosidades sobre a construção do Cristo Redentor (ele teria uma bola
na mão, em forma de globo terrestre, mas logo o carioca começou a zoar e
a obra ganhou a forma de braços abertos) e do bondinho. Pouca gente tem
conhecimento, mas o Pão de Açúcar tem uma grande caverna. Nas décadas
de 1950 a 1960, o português Eduardo de Almeida vivia lá, à base de pesca
e caça. Anos depois, o casal Francisco de Brito e Isídia Maria da
Conceição se juntou a ele. Todos foram desalojados pelos militares da
Fortaleza de São João, em 1968.
VERÃO DA LATA
No
fim de 1987, milhares de latas de maconha chegaram às praias do Rio,
caídas do navio Solana Star. Foi o verão mais carioca de todos. A
‘maresia’ tomou conta da cidade. Mas, quem diria, a canabis veio com
Cabral e era incentivada. As velas das grandes embarcações eram feitas
da fibra extraída da maconha e a Coroa Portuguesa incentivava seu
cultivo. Mas a grande fofoca da época era que D. Carlota Joaquina
adorava tomar um chazinho feito com a erva. Em 1875, um anúncio
divulgava as qualidades da planta: “Basta aspirar a fumaça dos cigarros
índios para fazer desaparecerem completamente os mais violentos ataques
de asthma, tosse nervosa, rouquidão...”
O LEBLON
Muito
antes do autor Manoel Carlos escolher o Leblon para cenários de suas
novelas, o bairro era apenas um lugar arenoso, que tinha um quilombo em
sua parte alta, e pertencia ao francês Charles Leblon. Só em 1918, com
os bondes circulando na praia, começou a se formar como bairro. A pesca
de baleia era negócio lucrativo. O óleo se juntava à argamassa de
concreto e atendia à construção civil. Ossos eram aproveitados para cal.
“O esperma era aproveitado para fazer lamparinas e velas, barbatanas,
usadas pelos especialistas da moda para fechar espartilhos”.
MULHER CARIOCA
Nesse
capítulo, são retratadas a poderosa musa do século 19, na personagem de
Eufrásia Teixeira Leite, feminista e amante do abolicionista Joaquim
Nabuco; a ‘sensual musa do século 20’, representada pela atriz Regina
Rosemburgo, e ‘a musa das musas’, Leila Diniz. “Foi um terremoto. Morreu
cedo, mas marcou definitivamente o feminismo carioca e brasileiro,
enfrentando o machismo dos anos 1960”.http://odia.ig.com.br/diversao/2016-04-10/livro-exalta-carioquices-e-conta-historia-politica-economica-e-social-do-rio.html