Com o andamento do processo de impeachment no Senado
e a possibilidade real de o PT ser ejetado do Executivo após 13 anos, a
presidente Dilma Rousseff intensificou sua agenda de compromissos nas
últimas semanas. Ela visitou as principais obras da gestão petista e
desengavetou propostas populares.
O objetivo é aproveitar os últimos minutos de poder com uma agenda
positiva e fazer um contraponto a Temer, cujo governo deve executar
medidas impopulares como aumento de impostos, corte de gastos sociais e
restrição de benefícios trabalhistas.
A cada avanço do impeachment no Congresso, é um balde de água fria na
esperança de Dilma em permanecer à frente do Executivo. Restou a ela
reatar os laços com movimentos sociais historicamente ligados ao PT,
como indígenas, movimentos de moradia, trabalhadores e ativistas LGBT.
Hoje, a base política dela é majoritariamente de esquerda, a julgar
pelos partidos que votaram contra o impedimento, o que facilitou a
reaproximação de Dilma com uma parcela importante do eleitorado.
No dia 28 de abril, Dilma assinou um decreto que permite a travestis e transexuais utilizarem o nome social
e terem a identidade de gênero reconhecida no serviço público federal,
incluindo autarquias e fundações. A medida é a primeira do tipo tomada
pelo governo federal.
Os grupos LGBTs têm apoiado amplamente a permanência de Dilma na
Presidência. Apesar disso, o governo dela garantiu poucas conquistas a
essa parcela da sociedade.
Ainda no funcionalismo público, a presidente ampliou de cinco para 20
dias a licença paternidade. O decreto atinge também pais que adotarem
crianças de zero a 12 anos incompletos.
Alvo de muitas críticas desde que foi criado e um dos principais legados
que a gestão Dilma deixa, o programa Mais Médicos foi prorrogado, no
dia 29 de abril, por mais três anos. Isso vai permitir que médicos
formados no exterior e estrangeiros continuem a trabalhar por esse
período. Segundo a presidente, a medida vai garantir o atendimento
básico de saúde a quase 63 milhões de brasileiros.
Atualmente, o programa tem 18,2 mil médicos e está presente em 4.058
cidades e em 34 distritos indígenas. Para Dilma, o Mais Médicos está “se
transformando em política de Estado”.
A presidente pediu também que toda a equipe acelere ao máximo a
demarcação de terras indígenas que não tenham entraves judiciais.
Resultado disso, mais de 30 processos de liberação de terras começaram a
andar.
No discurso oficial, o governo afirma que decidiu "pagar uma dívida
antiga com os povos tradicionais". Na prática, de um lado, índios,
quilombolas e movimentos sociais são atendidos em suas demandas. De
outro, o governo reforça sua resistência social a um eventual governo de
Michel Temer.
Junto com o Plano Safra 2016/2017, Dilma também incluiu um plano de
agricultura familiar, no valor de R$ 30 bilhões. O governo vai subsidiar
empréstimos para pequenos agricultores, com juros que vão entre 0,5% e
5,5% ao ano.
Em outro aceno à população de baixa renda, a presidente anunciou um reajuste de 9% no programa Bolsa Família durante celebração pelo Dia do Trabalho (1º de maio). Essa faixa da sociedade tem sido atingida por uma inflação acumulada de 9,94% nos últimos 12 meses,
pressionada principalmente pela alta dos preços dos remédios. No mesmo
dia, ela também prometeu a correção de 5% da tabela do Imposto de Renda —
porém, o Congresso ainda precisa aprovar essa medida.
Além das medidas populares, os últimos dias têm sido gastos com sola de
sapato e em ritmo de campanha. Desde o fim de abril, a presidente já
entregou quase 12 mil unidades do programa Minha Casa Minha Vida em seis
Estados. Na sexta-feira (6), anunciou a contratação de mais 25 mil
moradias do programa a serem construídas por cooperativas e associações —
em vez de caírem na mão de empreiteiras.
As ações são vistas como uma forma de Dilma “fazer as pazes” com os
movimentos de moradia. A CMP (Central de Movimentos Populares) chegou a
ameaçar, no ano passado, deixar de apoiar a presidente após ela ter dito
que o governo definiria o Minha Casa Minha Vida de acordo com a
“disponibilidade orçamentária”.
Quem também recebeu sua visita foi a usina hidrelétrica de Belo Monte,
no Pará, que começou a ser construída no primeiro ano da era Dilma. Dias
antes de o afastamento dela ser votado no Senado, ela esteve em Vitória
do Xingu para a inauguração da primeira das 24 unidades da planta. Duas
turbinas já estão gerando energia desde abril.
A transposição do rio São Francisco, outro projeto que o PT abraçou,
também não caiu no esquecimento. Na sexta-feira (6), Dilma visitou uma
estação de bombeamento na zona rural de Cabrobó (PE). A visita também é
um aceno ao Nordeste, que teve papel importante em todas as eleições
presidenciais em que o partido saiu vitorioso.
Por fim, neste domingo (8) de Dia das Mães, a presidente deve aprovar
uma outra pedida que atende à sua base social: vai anunciar o indulto
especial para mulheres presas, o que, na prática, vai anular ou reduzir
penas de mulheres encarceradas que tenham cumprido alguns requisitos,
sobretudo o de não terem cometido crime violento e terem sido condenadas
a menos de cinco anos de prisão.http://noticias.r7.com/brasil/nos-ultimos-dias-de-poder-dilma-faz-maratona-de-inauguracoes-e-desengaveta-medidas-sociais-09052016