A população que vive em favelas no Rio de Janeiro
teme mais a presença da polícia que a de traficantes no local onde
mora. Essa é uma das conclusões da "Pesquisa Internacional sobre Homens e
Equidade de Gênero", feita pelo Instituto Promundo, que ouviu 1.151
pessoas, de 15 a 59 anos, nas zonas sul e norte da cidade. No entanto,
na zona norte, área marcada pelas taxas de homicídio mais elevadas, a
diferença é pequena.
A pesquisa dividiu os resultados pelas duas
áreas. Na zona norte, 59% disseram ter medo da polícia, enquanto 52,9%
dos entrevistados da zona sul relataram o mesmo medo. Os percentuais são
maiores que os que apontam medo de traficantes nas duas áreas: 58,4% na
zona norte e 42% na sul.
O medo da polícia nessas comunidades
também é superior ao de milícias. Na zona norte, 53,3% dos entrevistados
relataram medo das milícias; na zona sul foram 43,8%. O medo da polícia
só não é maior que o de assaltantes na zona sul, onde 72,8% afirmaram
temê-los. Já na zona norte, esse índice cai para 46,7%, abaixo do medo
da polícia.
Resultado esperado
Tatiana Moura, diretora
executiva do Instituto Promundo e coordenadora da pesquisa, acredita
que o alto índice de medo da polícia explicitado na pesquisa é "natural"
pelo contexto em que vivem essas comunidades.
"Atribuímos isso à
presença violenta da polícia ao longo das décadas nas comunidades. A
verdade é triste, porque a presença do Estado ao longo da história tem
sido mais violenta que pacífica. É uma força da autoridade, que entra
muitas vezes para lançar medo, e é responsável por grande parte do
homicídios", afirmou.
Para Tatiana, o menor medo de traficantes
pode ser explicado porque, muitas vezes, são jovens da própria
comunidade que ocuparam espaços sociais vazios. "Essa é uma das
justificativas, mas não podemos generalizar. A verdade é que o tráfico
está no dia a dia, e a polícia é esporádica", disse.
Violência doméstica
O foco principal da pesquisa foi revelar que fatores influenciam na
violência do homem contra as mulheres parceiras dentro de casa. O medo
da polícia, por exemplo, é um dos fatores que contribuiriam para
aumentar o risco de o homem ser violento em casa.
"As pessoas que votaram ter medo de polícia e de milícias têm maior
probabilidade de usar a violência contra a parceira íntima. Percebemos
que isso gera estresse, trauma e se transforma em outras formas de
violência. Estar exposto à violência em espaços públicos, porém, é o que
mais influencia a violência em espaço privado", afirmou Tatiana. "O
terceiro fator que identificamos é que quem foi testemunha de caso de
violência na infância também tem maior probabilidade."
O
relatório aponta que 82,8% dos homens em comunidades pobres viveram ou
testemunharam pelo menos duas das seguintes situações antes dos 18 anos:
agressão grave, abordagem violenta por parte da polícia, espancamento,
troca de tiros, casa ou o local de trabalho atingido por balas, ameaças
de morte e lesão por disparo de arma de fogo. "A exposição à violência
fora do lar está profundamente relacionada com a violência em casa",
explica o estudo.http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/05/19/pesquisa-populacao-em-favelas-do-rio-teme-mais-a-policia-do-que-traficantes.htm