O número de eleitores faltosos foi o maior desde a redemocratização e chegou a 26,8%, ou 1,3 milhão de pessoas
Rio
- Se abstenções, brancos e nulos formassem uma chapa, a candidatura
venceria até mesmo o prefeito eleito Marcelo Crivella (PRB), com mais de
2 milhões de “votos”. O número de eleitores faltosos no Rio foi o maior
desde a redemocratização e chegou a 26,8%, ou 1,3 milhão de pessoas.
Os
nulos representaram 15,9%, ou 569 mil votos, e brancos chegaram a 4,1%,
ou 149 mil. Crivella teve 1,7 milhão de votos e Marcelo Freixo (Psol),
1,1 milhão. Segundo o cientista político da PUC-Rio Ricardo Ismael, o
resultado é um recado das urnas. “Reflete uma rejeição aos candidatos e
até mesmo à própria política. O eleitor quer novas lideranças, mas sem
votar isso fica difícil”, disse.
O jornalista Diego Roman, de
24 anos, afirmou não se identificar com nenhum candidato, nem mesmo os
do 1º turno. Mas ele garante que não é por falta de interesse. “Na
verdade, eu nunca estive tão engajado com a política. Mas eu procuro
candidatos e não encontro nenhum”, contou.
Para Ismael, o
problema vai além da não identificação com os candidatos Crivella ou
Freixo. Mesmo com 11 opções no 1º turno , a abstenção também foi alta e
chegou a 24,2%. “O eleitor rejeita um leque muito maior de candidatos”,
analisou.
O alto índice de faltosos também foi uma constante
em várias cidades brasileiras. O presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), o ministro Gilmar Mendes, disse ontem que esse cenário
enfraquece o processo eleitoral. Mas ele ressaltou que este número não
traduz toda a realidade.
“Verificamos, por exemplo, que nos
estados onde a biometria avançou mais, a abstenção cai de 18% para 10%
ou 11%. Nestes locais, os cadastros estão mais atualizados. Isto foi
constatado fazendo uma leitura crítica dos números da Justiça Eleitoral.
Sobre eles pesam outros fatores, como pessoas que morreram recentemente
e que ainda constam como ausentes, ou ainda pessoas que mudaram de
domicílio e que também entram na estatística dos ausentes”.
Mendes
admitiu que, mesmo que se use como parâmetro os 10 a 11% dos locais
onde ocorreram votações biométricas, são percentuais representativos.
“Se por um lado ele pode refletir a insatisfação da população contra a
classe política, por outro enfraquece e debilita as pessoas que recebem
os mandatos, especialmente na hora da tomada de decisão em um momento
delicado como o atual”, declarou o ministro.
Outra parcela da
ausência é de votantes cujos candidatos não passaram para o segundo
turno, ou que foram às urnas no primeiro turno motivados a votar para
vereador. A facilidade da justificativa do voto também desempenha um
papel significativo. O presidente do TSE destacou o fato de que no
Brasil o voto obrigatório está longe de ser um limitador absoluto. “No
fundo, a multa de R$ 3 torna a justificativa muito fácil e plausível de
ser feita”, disse.http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2016-10-30/rio-tem-recorde-de-abstencoes-nulos-e-brancos.html