Se você é um de nós – fã de “Game of Thrones”, da HBO, ou de “As
Crônicas de Gelo e Fogo” -, sei que está contando os minutos para o
lançamento do próximo livro e a estreia da nova temporada. E você também
sabe muito bem que existe aproximadamente um bilhão de personagens
entrelaçados no mundo cruelmente fascinante de George R. R. Martin.
Mas, no meio dessa gente toda, quem é a verdadeira estrela do show?
Muitas vezes, parece que o enredo gira em torno das crianças Stark –
Arya e Sansa – e Cersei, Jon Snow e a mãe dos dragões, Daenerys
Targaryen, ganham um pouco dos holofotes também, especialmente quando
estão narrando a história nos livros. Então, como saber quem é o
verdadeiro dono da rua? Fazendo contas, é claro. Matemáticos usaram um
algoritmo para calcular quem é mais importante para o enredo e não é
ninguém citado acima.
De acordo com os pesquisadores, o personagem melhor ligado aos outros
personagens e, portanto, o mais influente, é o pequeno, mas poderoso
leão Tyrion Lannister.
E, na verdade, isso nem é tão surpreendente assim, quando se para pra
pensar. Ele esteve no meio de grandes eventos para a história,
começando já na excursão até Winterfell e a Muralha – eu acredito
fielmente que spoilers prescrevem depois de um tempo, mas aviso mesmo
assim: o texto adiante contém detalhes da primeira temporada em diante –
antes de ser capturado por Catelyn Stark e levado para o Ninho da Águia
como seu prisioneiro e, eventualmente, retornando para controlar os
cofres de Porto Real (e assassinar alguns personagens principais antes
de fugir). Agora, ele está pertinho da nossa Khaleesi favorita depois de
atravessar o Mar Estreito e nós só podemos torcer para que ele a ajude a
voltar para retomar o trono de Westeros. Ou seja, para alguém que seria
meramente o tio do rei mais chato da história da monarquia, ele está
mais do que bem.
Metodologia
Tirando o meu lado fã, como é possível mapear esse tipo de influência
de um ponto de vista matemático? Como relata o portal Science Alert,
Andrew J. Beveridge e Jie Shan, da Faculdade Macalaster, em Minnesota,
nos Estados Unidos, conseguiram separar os muitos personagens nos livros
usando a ciência das redes – que examina, basicamente, como a
informação flui de um lado para outro.
Para fazer isso, eles usaram o terceiro livro da série, “A Tormenta
de Espadas”, e identificaram cada vez que dois personagens aparecem
separados por 15 palavras um do outro. Quanto mais vezes esses nomes
apareceram juntos, mais peso foi dado a ligação entre os dois
personagens.
“Esta é uma aplicação fantasiosa da ciência das redes”, disse
Beveridge ao site Quartz. “Mas é o tipo de aplicação acessível que
mostra sobre o que a matemática é, que é encontrar e explicar padrões”.
O mapeamento resultou na rede abaixo, dividido em personagens e suas
comunidades. Como era de se esperar, o estudo representa com bastante
precisão os grupos que conhecemos e amamos – ou amamos odiar.
Porém, as conexões por si só não contam toda a história e os
pesquisadores, então, classificaram cada um dos personagens usando
várias medidas diferentes, incluindo o PageRank – o algoritmo que o
Google usa em seu mecanismo de busca – para recompensar caracteres com
base em quão importantes as pessoas relacionadas a eles eram.
No final, Tyrion ficou em primeiro lugar em todas as medidas, menos
uma, fazendo dele o personagem principal em “As Crônicas de Gelo e Fogo”
– e, consequentemente, em “Game of Thrones”.
E os outros personagens?
O segundo lugar ficou com Jon Snow, que pode ou não ainda estar vivo
como chefe da Patrulha da Noite. Ele também foi o único a vencer Tyrion
na medida de “intermediação”, que avalia a influência de um personagem
ao longo de diferentes grupos. O terceiro personagem mais influente foi
Sansa Stark, que cresce cada vez mais e deve chegar ao seu ápice até
agora nesta temporada e em “Winds of Winter”, o próximo livro da série.
E é aí que pode estar a verdadeira surpresa do estudo, visto que
tantas pessoas enxergam a filha mais velha dos Stark como fraca e
mimada. “No entanto, outros atores [na história] são conscientes de seu
valor como herdeira dos Stark e repetidamente usam-na como um peão em
seus jogos de poder”, escrevem os matemáticos em seu relatório, chamado
“Network of Thrones”, publicado na “Math Horizons”, a revista da
Associação Matemática da América. “Se ela conseguir desenvolver sua
astúcia, ela pode capitalizar em sua importância de rede para um efeito
dramático”.
Outro ponto interessante dos resultados é Daenerys, porque ela não
pontua muito devido ao seu isolamento físico em Essos. Mas ela se torna
muito mais importante nos últimos livros e isso é algo previsto pela
pesquisa – porque as poucas ligações que ela tem são com pessoas
extremamente importantes.
Vida real
Embora seja divertido aplicar a matemática às nossas histórias de
fantasia favoritas, também existe uma grande quantidade de aplicações
práticas deste tipo de pesquisa. A mais importante delas é ajudar as
agências de segurança e da polícia a estudar as redes terroristas.
E se a técnica conseguiu se provar ao analisar a trama complicada de
“Game of Thrones”, incluindo dragões e mortos-vivos, mapear nossas
relações da vida real também deve ser fácil. Só nos resta torcer para
que o autor George R. R. Martin não resolva rir da nossa cara e tire
Tyrion do mapa também, só para ver o circo pegar fogo e nossas teorias
de fãs – matemáticos ou não – irem pelo ralo. [Science Alert, Quartz]