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Especial Eleições 2016: Jovens candidatos e os desafios de renovar a política


Especial Eleições 2016: Jovens candidatos e os desafios de renovar a política

13/09/2016 às 17:54, por Natasha Ramos.
Dados sobre as candidaturas das eleições 2016 apontam para o desafio de se renovar a política no Brasil por meio de uma maior participação dos jovens, mulheres e negros de forma direta com candidaturas às Prefeituras e Câmaras Municipais
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou as estatísticas sobre o perfil das candidaturas para as eleições municipais 2016. Segundo dados atualizados em 8 de setembro, há um total de 494.177 mil pessoas concorrendo aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador.
Neste ano, a quantidade de mulheres aumentou 1% em relação às eleições de 2014, ficando em 32% do total de candidaturas (lembrando que esse número pode ser maior se considerarmos as candidatas trans, que não são contabilizadas oficialmente como mulheres). Os dados do TSE indicam também que os brancos ainda representam a maioria das candidaturas (51%), enquanto pardos e outros, somam 48%.
Apesar de as mulheres comporem mais da metade da população brasileira e mais de 50% dos brasileiros se autodenominarem negros, os dados das candidaturas mostram que ainda estamos distantes de atingir uma adequada representatividade de setores sociais importantes no país.
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Essa sub-representação das mulheres e dos negros na política se reflete também no setor jovem da população. Do total de candidatos e candidatas às eleições neste ano, 99.789 têm até 35 anos, representando cerca de 20% da parcela jovem das candidaturas.
“O número de candidatos jovens é muito pequeno e, em geral, eles têm pouca chance eleitoral em um sistema dominado até há pouco tempo por financiamento privado e emendas individuais de deputados”, comenta o cientista político Leonardo Avritzer, presidente da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP).
Para o cientista político Cláudio Couto, professor na Fundação Getúlio Vargas, há uma clara sub-representação dos mais jovens entre os candidatos.
“Os jovens entre 18 e 35 anos são cerca de 27% da população brasileira, o que dá aproximadamente 35% da população adulta que poderia concorrer em eleições. Olhando esses números, poderíamos entender que há uma sub-representação dos mais jovens entre os candidatos”, afirma.
Nas eleições de 2014, para presidente, governador, senador e deputados estadual e federal, os jovens entre 18 e 34 anos representavam uma parcela ainda menor das candidaturas, cerca de 15%. É possível afirmar, portanto, que houve uma renovação de cerca de 5% nas candidaturas, com a presença de mais jovens concorrendo às eleições de 2016.
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No entanto, Couto lembra que a política, como qualquer outra atividade profissional, tem uma lógica de carreira a lhe organizar. A disputa de eleições no nível municipal seria, então, o primeiro estágio numa carreira política, o que faria com que houvesse nesse plano mais jovens do que nos níveis estadual e federal.
“É de se esperar que um candidato a um cargo eletivo no poder legislativo ou executivo seja algo possível aos que já percorreram certo caminho na política e, portanto, já não são tão jovens assim. Isso pode ser a razão para essa aparente sub-representação dos mais jovens entre os candidatos”, pondera o professor da FGV.

Por mais jovens na política

No âmbito municipal, atualmente, apenas 4 das 26 capitais brasileiras têm suas prefeituras administradas por jovens com menos de 40 anos. Quatro prefeitos estão na faixa dos 40 anos e a grande maioria tem mais de 50 anos. A representação feminina no comando das capitais também está muito aquém: apenas uma prefeitura, de Boa Vista (RR), é liderada por uma mulher.
Na câmara de São Paulo, cidade mais populosa do Brasil, esse déficit de representatividade de jovens e mulheres é ainda maior: apenas 4 dos 55 vereadores têm menos de 40 anos. Mulheres são apenas 6 vereadoras.
Esses números refletem o que acontece no restante do país. Com o atual Congresso Nacional, o mais conservador desde a ditadura militar, os candidatos jovens do Brasil, sobretudo aqueles provenientes do movimento estudantil, enfrentam o desafio de renovar a política no país, trazendo novas e mais progressistas ideias para oxigenar o modo como a política vem sendo conduzida.
Resultado das eleições municipais de 2012:
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Ocupar a política

“A renovação da política a partir de uma maior participação dos jovens se faz necessária para mudar a política da maneira como ela vem sendo exercida até hoje”, diz Manuela D’Ávila, jornalista e deputada estadual no Rio Grande do Sul.
A parlamentar gaúcha, que começou sua carreira política no movimento estudantil, foi diretora da UNE, e depois ingressou na política partidária, acrescenta:
“Os jovens são atores estratégicos na luta pela superação dos problemas da chamada velha política. São eles que ousam frente aos problemas que nos castigam há anos”.
Manuela foi a vereadora mais jovem da história de Porto Alegre, eleita em 2004 aos 23 anos. Se tornou deputada federal em 2006 e foi reeleita em 2010. Em 2014, foi eleita deputada estadual com a maior votação para o cargo naquele ano.
“O movimento estudantil mostra aos jovens militantes a necessidade da organização e da democracia. Não existe país desenvolvido sem amplo investimento na juventude. É a juventude que questiona o sistema político e faz isso com razão. O sistema político atual, com os partidos dirigidos por homens velhos e conservadores, que não dão espaços para as mulheres e para os jovens, realmente não nos representam. Mas, mais do que criticar, é preciso ocupar a política, por isso, as candidaturas dos jovens são tão importantes para gente”, opina Manuela.
Confira entrevista completa com Manuela D’Ávila
Para o deputado federal Orlando Silva, que também começou sua trajetória política no movimento estudantil – primeiro no DCE de sua universidade, a Universidade Católica de Salvador, depois na União Nacional dos Estudantes, onde foi tesoureiro, diretor de comunicação e presidente da entidade: “É fundamental que as lideranças políticas formadas no Movimento Estudantil possam ocupar espaço na cena política”.
“Há hoje uma clara crise de representatividade. É preciso que essas lideranças políticas construam uma identidade da juventude. Muitos jovens estão fora da política. A inclusão de candidatos mais novos pode ajudar no aumento do interesse dos jovens”, diz o deputado.
Confira a entrevista completa com Orlando Silva
O senador Lindbergh Farias, que também começou sua trajetória política no movimento estudantil, eleito presidente da UNE em 1992, diz que esse ambiente foi uma grande escola. “É no ‘ME’ que muitos jovens travam o primeiro contato direto com a organização coletiva para reivindicar melhorias nas questões que os afetam diretamente: as condições de ensino, a mobilidade urbana, o acesso à cultura e arte. É um espaço de debates riquíssimos e de experimentação, de liberdade, radicalização da democracia”.
Para ele, é preciso mais candidaturas de jovens para renovar a política brasileira.
“Eu acho que a política brasileira só tem a ganhar com o surgimento de figuras arejadas, incorporando novas pautas, rompendo com estruturas viciadas e trazendo a juventude para a participação política também no plano institucional”.
Confira a entrevista completa com Lindbergh Farias
Na busca por ocupar esse vácuo de jovens e mulheres representantes, a presidenta da UNE, Carina Vitral, com apenas 28 anos, mas um currículo cheio de lutas no movimento estudantil, resolveu disputar a prefeitura de Santos, sua cidade natal.
“Há ainda quem acredite que o jovem não está pronto para um desafio como esse, mas a verdade é que enfrentamos desafios iguais ou até maiores nas lutas cotidianas. A nossa geração, que ocupou as ruas do país em Junho 2013 está querendo participar em todos os espaços, com a certeza de ter a sensibilidade, a rebeldia e a ousadia necessárias para fazer diferente do que está aí. Não há como esperar que o atual modelo da nossa política se transforme sozinho, sem a nossa participação, sem a nossa presença nos lugares que pertenceram, historicamente, somente aos homens velhos e conservadores”, afirmou.

Leia também: Site da UNE mapeia jovens candidatos às eleições 2016

Durante o mês de agosto, a equipe do site da UNE realizou um levantamento em todo o país para tentar identificar concorrentes ao pleito 2016 que ainda fazem parte ou já passaram pelo movimento estudantil recentemente.
Engajados em grêmios, DCEs, CAs, Atléticas, entidades municipais e estaduais, coletivos, ONGs e partidos políticos, estes candidatos descobriram a partir da organização estudantil uma vocação para representar a juventude na administração de suas cidades.
Confira o perfil dos 30 candidatos os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereadores que responderam à reportagem da UNE.
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Clique na imagem e confira os perfis dos jovens candidatos nas eleições 2016 provenientes do movimento estudantilleições? Responda abaixo e contribua com o debate para fortalecer a nossa democracia.http://www.une.org.br/noticias/especialeleicoes-2016-jovens-candidatos-e-os-desafios-para-renovar-a-politica/