A crise no setor imobiliário abre caminho para quem quer comprar imóveis
novos ou usados com desconto. De um lado, o aumento de distratos
-devolução de unidades- leva construtoras e incorporadoras a dar
abatimentos para se livrar de estoque. De outro, proprietários em
dificuldades reduzem os preços para levantar dinheiro.
No terceiro trimestre, o estoque acumulado era de 35.394 imóveis na
cidade de São Paulo. Considerando só os 4.718 lançamentos do período, o
estoque de não vendidos correspondia a 63% do total, contra 43% no mesmo
período do ano passado.
Diante deste cenário, as incorporadoras e construtoras estão abertas a
descontos para fechar negócio. Fora de grandes centros, o abatimento
pode chegar a 25%, afirma Celso Amaral, diretor da consultoria Geoimovel
e da Amaral d'Ávila Avaliações.
Os distratos jogam um papel importante nisso, pois têm agravado a
situação financeira de muitas incorporadoras. A PDG, que chegou a ser a
maior do país no auge do boom imobiliário, é a mais recente delas a
flertar com a recuperação judicial.
"Várias enfrentam problema de caixa. A forma de se capitalizar é
vendendo mais barato. A conta que ela vai fazer é qual o desconto
necessário para vender", diz Marcelo Prata, presidente do Canal do
Crédito, site de comparação de produtos financeiros. Em feirões, não é
raro encontrar percentuais acima de 50%.
Segundo o advogado Rodrigo Karpat, do Karpat Advogados, o momento é propício para quem quer comprar a casa própria.
"No passado, algumas construtoras lançavam imóveis e vendiam em 24
horas. Agora, você acha empreendimentos com cem unidades vagas".
Em alguns casos, a taxa de distratos pode chegar a 60% das unidades, diz
Celso Amaral. Mas ele alerta: "Não é porque tem desconto que vai
comprar qualquer porcaria. Tem que procurar algo com potencial de
valorização."
Isso passa por avaliar os serviços no entorno e oferta de transporte, por exemplo.
No mercado de usados o desconto é menor, embora seja possível negociar se o dono tiver urgência na venda.
Segundo dados do Creci-SP (conselho paulista de corretores), os
descontos nos usados em agosto variaram de 9,13% nas regiões centrais
até 10,03% nos bairros nobres.
Além do abatimento, os proprietários estão facilitando o pagamento. Se
antes só queriam pagamento à vista, agora já topam parcelar
parte do valor. A iniciativa também parte das imobiliárias. A Lello pretende aproveitar a Black Friday para oferecer descontos agressivos, repetindo o que fez em 2015.
parte do valor. A iniciativa também parte das imobiliárias. A Lello pretende aproveitar a Black Friday para oferecer descontos agressivos, repetindo o que fez em 2015.
Apesar de vozes do mercado vislumbrarem recuperação do mercado, o
pessimismo ainda se sobressai. Relatório da agência de risco Fitch
projeta que os preços reais -após desconto da inflação- de imóveis
cairão mais em meio a uma economia que luta para se recuperar.
O crédito imobiliário com recursos da poupança -principal fonte de
financiamento do tipo- deve continuar restrito. Em setembro, a queda
desse tipo de empréstimo foi de 41,7% na comparação com o mesmo mês de
2015, em parte pela fuga de recursos da poupança. Neste mês, a Caixa
Econômica anunciou a liberação de R$ 34 bilhões em recursos adicionais
para o financiamento imobiliário.
Augusto Viana Neto, presidente do Creci-SP, diz que a liberação é
bem-vinda, mas não basta para a retomada, já que não houve alteração nos
prazos e juros do financiamento imobiliário cobrados pelos bancos.http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/10/1827695-crise-amplia-para-ate-25-desconto-na-compra-de-imovel-novo-ou-usado.shtml